quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Meio Século sem a Voz Orgulho do Brasil

Há exatos 50 anos morria num quarto do Hotel Normandie, em São Paulo, quando se preparava para gravar um programa de televisão, onde seria homenageado pelo Movimento Tropicalista. Antônio Vicente Filipe Celestino (Rio de Janeiro RJ 12 de setembro de 1894 - São Paulo SP 23 de agosto de 1968). Cantor, compositor e ator. Filho de um casal de imigrantes calabreses e irmão dos cantores João (baixo), Pedro (tenor) e Radamés (barítono), e do ator Amadeu. Começa a cantar aos oito anos no grupo Pastorinhas da Ladeira do Viana. Aprende o ofício de sapateiro com o pai e desenho industrial no Liceu de Artes e Ofícios. 

Desde criança assiste às companhias líricas que passam pelo Rio de Janeiro. Em 1903, aos nove anos, desperta a atenção do tenor italiano Enrico Caruso ao participar de um coro infantil da ópera Carmen, de Georges Bizet (1838 - 1875). A partir do início dos anos 1910, passa a se apresentar em festas, serenatas, casas de chope, teatros de revista, operetas e burletas - principalmente no Teatro São José, em São Paulo, que o contrata como corista em 1915. Nesse ano grava a valsa Flor do Mal (Santos Coelho e Domingos Corrêa), na Casa Édison (RJ). Em 1917, inicia o estudo do canto lírico no Teatro Municipal, depois de recusar convite para estudar em Milão, Itália, devido à proibição de seu pai. Entre 1917 e 1923, canta importantes óperas e operetas e participa de burletas, período em que começa a cruzar o país com apresentações musicais ou teatrais. Também em 1917, grava Urubu Subiu, desafio sertanejo com Bahiano, o cantor de Pelo Telefone. Em 1921, integra o elenco na ópera Tosca, de Giacomo Puccini (1858 - 1924), e Aida, de Giuseppe Verdi (1813 - 1901) no Teatro Lírico. É um dos primeiros a gravar discos pelo sistema elétrico, lançando, em 1928, Santa (Freire Júnior). Em 1929, grava o samba-canção Linda Flor (Henrique Vogeler e Cândido Costa) e o tango-fado Luar de Paquetá (Freire Júnior e Hermes Fontes), pela gravadora Odeon.

*Primeiro disco do Vicente na Odeon, extinta Casa Edison.

É digno de nota e também publicado anteriormente nesse mesmo espaço, um disco inédito em sua discografia, prensado pela Popular, em 1919 ou 1920, mesma gravadora de estreia de Francisco Alves. Em todas as pesquisas feitas na internet, constam apenas três gravadoras, que Vicente gravou: Odeon (1915-1928), Columbia (1930-1934) e Victor (1935-1968), ficando a Popular esquecida - ou desconhecida da maioria dos pesquisadores.

Fã do tenor italiano Enrico Caruso (1873 - 1921) e do ator, cantor e humorista francês Maurice Chevalier (1888 - 1972), Vicente Celestino é dono de uma popularidade que atravessa gerações. Ao lado de Francisco Alves (1898 - 1952), é um dos raros cantores brasileiros (entre tenores e barítonos) que migra com sucesso da era da gravação mecânica - dominante nos anos 1920 e que exige dos intérpretes potente emissão vocal - para a fase elétrica (1927). No novo sistema, A Voz Orgulho do Brasil - como é conhecido - grava cerca de 137 discos em 78 rpm com 265 músicas, 10 compactos e 31 LPs, que incluem reedições dos 78 rpm.

Por fim, fica aqui o raro registro do Vicente na Popular. Peço desculpas aos colegas pela precária qualidade do vídeo, bem como do áudio.


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