Lá vão os idos de 1958...Finalmente o Brasil ganhava sua primeira copa. Devido a autonomia dos aeroplanos da época, as escalas europeias passavam impreterivelmente no Nordeste, para abastecimento e seguir viagem - e não seria diferente com o avião que trouxe a Seleção de Vicente Feola, que tinha ordens expressas do então presidente Juscelino Kubitschek para demorar o mínimo possível em terras pernambucanas, enquanto a Capital Federal fervilhava para receber festivamente os primeiros heróis mundiais da nossa amada pelota - planos esses suspensos pelo generalíssimo senhor Presidente da Federação Pernambucana de Futebol, o lendário Rubem Moreira, vulgo Rubão, presidente da FPF de 1955 a 1984, ano de sua morte.
*Rubem moreira - Rubão, entregou a cada um dos jogadores uma cópia do disco personalizada.
Sem que a comissão técnica nem os jogadores soubessem, foi montada uma imensa programação no Recife para os craques campeões do mundo - e homenagens especiais a Vavá, o Leão da Copa, recifense - onde incluía desfile em carro aberto e almoço regado a discursos no Clube Português. Pelo menos metade do dia se havia gasto pra quem estava apenas de passagem...
Em plena Copa de 1958, com a expectativa do Brasil ser campeão mundial, o futebol entrou definitivamente na história da Rozenblit. Naquela época, o complexo fonográfico contava com 190 funcionários – o que dava uma agilidade maior no lançamento dos discos. Mas nada como o que aconteceu naquela Copa.
José Rozenblit, presidente da Fábrica de Discos Rozenblit, desportista e presidente à época do Sport Club do Recife, encomendou a Nelson Ferreira uma composição celebrando o feito. O maestro compôs (com Aldemar Paiva), "Brasil, Campeão do Mundo", uma marcha-hino. No lado B do 78 rpm que teve o samba "Escola de Feola", de outro craque da música pernambucana, Luís Queiroga, como faixa principal, gravada pelos Três Bohemios. A música "Brasil, Campeão do Mundo" ficou a cargo da Orquestra e Coro Mocambo (o qual acredito ser Claudionor Germano no canto solo).
*Homenagem da Mocambo aos atletas da Copa de 1958 - selo estilizado nas cores nacionais - Acervo Particular.
Rozenblit determinou que, se o Brasil ganhasse, todos os funcionários deveriam estar na fábrica meia hora após o jogo. Com todo mundo trabalhando, às 16h daquele mesmo 29 de junho de 1958 as duas composições já estavam tocando nas rádios do Recife.
O disco 78 rotações para os Campeões do Mundo foi produzido em tempo recorde. Cada um dos jogadores ganhou uma cópia personalizada do disco.
Nesse dia, chovia às bicas no Recife quando o avião, com 3 horas de atraso aterrissou no Aeroporto dos Guararapes. A multidão lotava o aeroporto e ameaçava invadir a pista. O governador, marechal Cordeiro de Farias e a primeira dama, ambos com as roupas encharcadas, deram as boas vindas aos craques. Bellini, o capitão da seleção foi o primeiro a desembarcar. Vendo a multidão, a chuva, as autoridades, apenas exclamou: "Parece mentira..."
Logo em seguida, teria início o embate verbal que quase terminava em corporal, entre o presidente da FPF, Rubão Moreira e Paulo Machado de Carvalho, presidente da delegação brasileira (e dono da Rádio e TV Record de São Paulo). Sem interesse em permanecer em solo pernambucano, mais do que necessário, quando lhe foi dito que havia uma recepção preparada para homenagear os campeões do mundo, o cartola paulista avisou às autoridades pernambucanas ter recebido ordens expressas para o avião embarcar imediatamente para o Rio. Rubão, em tom desafiante, afirmou que a aeronave não decolaria sem que fosse prestada a homenagem. "Ante a alegação do sr. Paulo Machado de Carvalho de que tinha ordem do presidente da República de não sair do aeroporto, o presidente da Federação Pernambucana declarou que, mesmo assim, os jogadores teriam que ir à cidade, pois gastara vultosa quantia com um almoço para os craques 'Ou os campeões vão à cidade, ou o avião não sai daqui'" - ameaçou categórico, segundo matéria vinculada no Jornal do Brasil, de 3 de agosto de 1958, assinada por Luis Gutenberg, que veio com a delegação.
O presidente da Federação Paulista de Futebol, deputado Mendonça Falcão, entrou na discussão. Falcão tornou-se famoso pelas antológicas gafes que cometia e por esquentar a cabeça facilmente. Conta-se que em 1963, ele chefiou a delegação brasileira que jogou um amistoso contra a Alemanha Ocidental, em Munique. A seleção recebeu um convite para visitar o tristemente campo de concentração nazista de Dachau. Mendonça Falcão foi terminantemente contra e esclareceu: "Em véspera de jogo, time meu não visita concentração de adversário". Naquela manhã, na pista do aeroporto dos Guararapes, observando o bate-boca entre Paulo Machado de Carvalho e o presidente da Federação Pernambucana, interferiu apoquentado. Berrou para Rubem que tal violência constituía-se um caso de polícia. "Acontece que a polícia aqui é nossa" respondeu, peremptório, o intrépido Rubão, acabando com a discussão.
A seleção desfilou em carro aberto pelas principais avenidas do Recife, em caminhão do Corpo de Bombeiros, no qual também foi o pai do centroavante Vavá, o Leão da Copa. Quando finalmente, adentraram o salão do Clube Português, os craques foram recebidos ao som da marcha-hino de Nelson Ferreira e Aldemar Paiva que, com o samba de Luiz Queiroga, foi a trilha do almoço dos campeões.
Fontes: Jornal do Commercio
http://blogs.diariodepernambuco.com.br/esportes
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