domingo, 15 de junho de 2014

Morre Marlene, a Eterna Rainha do Rádio

A cantora Marlene morreu nesta sexta-feira (13), no Rio de Janeiro, por volta das 15h.  A grande estrela da era do rádio no Brasil se chamava Victória Delfino dos Santos e tinha 91 anos. O velório será no Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, neste sábado (14), a partir das 8h. Às 9h, os portões serão abertos para que os fãs possam se despedir da cantora.



Por volta das 15h30, o corpo vai ser levado para o Memorial do Carmo, no Caju, na Zona Portuária do Rio, onde será cremado. Veja no vídeo ao lado a reportagem sobre seus 90 anos.
De acordo com o músico e compositor Hermínio Bello de Carvalho, Marlene foi hospitalizada há pelo menos três dias e estava internada na Casa de Portugal, no Rio Comprido, Zona Norte do Rio. Ela morreu de falência múltipla dos órgãos.

O sobrinho da cantora, Darcio Miranda, informou ao G1 que ela foi hospitalizada com hemorragia nasal neste domingo (8), mas o quadro evoluiu para uma pneumonia. Marlene chegou a ser internada, mas veio a ter falência múltipla dos órgãos nesta sexta.

Nasceu Victória Bonaiutti de Martino na capital paulista, no bairro da Bela Vista, conhecido reduto de ítalo-brasileiros. Seus pais eram italianos, e Victória Bonaiutti de Martino era a mais nova de três filhas. Ela herdou o nome do pai, que morreu sete dias antes de seu nascimento. A viúva, Antonieta, não se casou novamente, e criou sozinha as filhas, dando aulas de alfabetização no Instituto de Surdos e Mudos de São Paulo e como costureira.


Devota da Igreja Batista, internou a filha mais nova no Colégio Batista Brasileiro, cujas mensalidades foram dispensadas em troca de serviços prestados ao colégio, como arrumação dos quartos. Marlene estudou ali dos nove aos quinze anos, destacando-se nas atividades esportivas, assim como no coro juvenil da igreja.

Ao deixar o colégio, foi cursar a Faculdade do Comércio, situada na Praça da Sé, com o objetivo de se tornar contadora. Na mesma época, emprega-se, durante o dia, num escritório comercial. É quando começa a participar de uma entidade de estudantes, recém formada, a qual passa a dispor de um espaço na Rádio Bandeirantes, a Hora dos estudantes, programa em que seria cantora. Foi quando seus colegas estudantes, por eleição, escolheram seu nome artístico, em homenagem à atriz alemã Marlene Dietrich.

Carreira artística

Victória acabou deixando o curso de contadora em segundo plano, priorizando sua atividade artística. Então, em 1940, ela estreou como profissional na Rádio Tupi de São Paulo. Tudo isto, contudo, fez escondida da família, que, por razões religiosas e sociais vigorantes na época, não poderia admitir uma incursão no mundo artístico. O nome artístico esconderia sua verdadeira identidade até ser descoberta faltando aulas por causa de seu expediente na rádio, o que resultou num castigo exemplar da parte de sua mãe. Mas ela já estava decidida a seguir carreira.

Assim, em 1943, cercada pela desaprovação da família, ela partiu para o Rio de Janeiro, onde, após ser aprovada no teste com Vicente Paiva, passou a cantar no Cassino Icaraí, em Niterói. Ali permaneceu por dois meses até conhecer Carlos Machado, que a convidou para o Cassino da Urca, contratando-a como vocalista de sua orquestra.

Em 1946, houve a proibição dos jogos de azar e o consequente fechamento dos cassinos por decreto do presidente Eurico Gaspar Dutra. Marlene, então, mudou-se com a orquestra de Carlos Machado para a Boate Casablanca. Dois anos depois, tornou-se artista do Copacabana Palace a convite de Caribé da Rocha, que a promoveu de crooner a estrela da casa.

  

Passou a atuar também na Rádio Mayrink Veiga e, no ano seguinte, na Rádio Globo. Nesse ínterim, já se tinha dado sua estreia no disco, pela Odeon, em meados de 1946, com as gravações dos sambas Suingue no morro (Amado Régis e Felisberto Martins) e Ginga, ginga, moreno (João de Deus e Hélio Nascimento). Mas foi no carnaval do ano seguinte que Marlene emplacou seu primeiro sucesso, a marchinha Coitadinho do papai (Henrique de Almeida e M. Garcez), em companhia dos Vocalistas Tropicais, campeã do concurso oficial de músicas carnavalescas da Prefeitura do Distrito Federal. E foi cantando esta música que ela estreou no programa César de Alencar, na Rádio Nacional, com grande sucesso, em 1948. Marlene se tornaria uma das maiores estrelas da emissora, recebendo o slogan Ela que canta e dança diferente. Ainda nesse ano, foi contratada pela gravadora Continental, estreando com os choros Toca, Pedroca (Pedroca e Mário Morais) e Casadinhos (Luís Bittencourt e Tuiú), este cantado em duo com César de Alencar. Marlene esperou o fim de seu contrato com o Copacabana Palace para abandonar os espetáculos nas boates, dedicando-se ao rádio, aos discos e, posteriormente, ao cinema e ao teatro.

Rainha do Rádio

Nessa época, a maior estrela da Rádio Nacional era Emilinha Borba, mas as irmãs Linda e Dircinha Batista eram também muito populares, e as vencedoras, por anos consecutivos, do concurso para Rainha do Rádio. Este torneio era coordenado pela Associação Brasileira de Rádio, sendo que os votos eram vendidos com a Revista do Rádio e a renda era destinada para a construção de um hospital para artistas. Então, em 1949, Marlene venceu o concurso de forma espetacular. Para tal, recebeu o apoio da Companhia Antarctica Paulista. A empresa de bebidas estava prestes a lançar no mercado um novo produto, o Guaraná Caçula, e, atenta à popularidade do concurso, pretendiam usar a imagem de Marlene, Rainha do Rádio, como base de propaganda de seu novo produto, dando-lhe, em troca, um cheque em branco, para que ela pudesse comprar quantos votos fossem necessários para sua vitória. Assim, Marlene foi eleita com 529.982 votos. Ademilde Fonseca ficou em segundo lugar, e Emilinha Borba, dada como vencedora desde o início do concurso, ficou em terceiro. Desse modo, originou-se a famosa rivalidade entre os fãs de Marlene e Emilinha, uma rivalidade que, de fato, devia muito ao marketing e que contribuiu expressivamente para a popularidade espantosa de ambas as cantoras pelo país. Prova disso foram as gravações que elas fizeram em dueto naquele ano, com o samba Já vi tudo (Amadeu Veloso e Peter Pan) e a marchinha Casca de arroz (Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti). Foram sucessos no Carnaval de 1950, e no começo desse ano, com a marchinha A bandinha do Irajá (Murilo Caldas), também sucesso no Carnaval.

*As Eternas Amigas - e Rivais - na disputa do Trono de Rainha do Rádio

A eleição para Rainha do Rádio ainda lhe rendeu um programa exclusivo na Rádio Nacional, intitulado Duas majestades, e um novo horário no programa Manuel Barcelos, em que permaneceu como estrela até o fechamento do auditório da Rádio Nacional. A estrela Marlene ajudou vários colegas seus, inclusive usando seu prestígio e influência junto à direção da Rádio Nacional, trouxe para a emissora,as vozes de Jorge Goulart e Nora Ney, que ali permaneceram por décadas, só saindo por causa de problemas com o governo da época da ditadura militar no país.Também foi Marlene a madrinha de um de seus frenéticos fãs, o jovem Luís Machado,que veio a ser locutor comercial dos programas, de Manuel Barcelos. Participou também de outros programas, como o de César de Alencar, o de Paulo Gracindo, bem como Gente que brilha, Trem da alegria, Show dos bairros e o de José Messias,porem o jovem locutor Luís Machado deixou a rádio,também com problemas com o governo da ditadura militar, saindo junto com Cesar de Alencar, e vários outros artistas,que não se enquadravam àquele regime governamental. Luís posteriormente dedicou-se aos estudos,não voltando ao rádio,devido a variações em suas cordas vocais,embora não concluindo a faculdade de direito de Valença. Deixou a faculdade para seguir a profissão de Motorista de ônibus em turismo rodoviário,porém mantendo-se como fã fiel á grande Marlene, a quem agradece até os dias de hoje,atualmente com 59 anos a oportunidade por ela oferecida.

Marlene manteve o título ainda pelo ano seguinte. Ela então passou a ser cantora exclusiva do programa Manuel Barcelos, enquanto que Emilinha tornou-se exclusiva do de César de Alencar. Ainda naquele ano, gravou dois de seus maiores sucessos, acompanhada d'Os Cariocas, Severino Araújo e Orquestra Tabajara: os baiões Macapá e Que nem jiló (Humberto Teixeira e Luís Gonzaga). Participou da revista Deixa que eu chuto, no Teatro João Caetano, no Rio. Atuou intensamente no teatro musicado, excursionando pelo exterior e por todo o Brasil em inúmeros espetáculos. Participou também do filme Tudo Azul, ao lado do futuro marido Luís Delfino, produzido por Rubens Berardo e dirigido por Moacyr Fenelon. Marlene também teve um programa exclusivo que ia ao ar aos sábados às 20 horas Intitulado Marlene Meu Bem, juntamente com seu marido Luís Delfino.

Fontes: Wikipedia
              G1.com.br

quarta-feira, 11 de junho de 2014

A Copa na Mocambo - A Sagração em 78 rpm.

Lá vão os idos de 1958...Finalmente o Brasil ganhava sua primeira copa. Devido a autonomia dos aeroplanos da época, as escalas europeias passavam impreterivelmente no Nordeste, para abastecimento e seguir viagem - e não seria diferente com o avião que trouxe a Seleção de Vicente Feola, que tinha ordens expressas do então presidente Juscelino Kubitschek para demorar o mínimo possível em terras pernambucanas, enquanto a Capital Federal fervilhava para receber festivamente os primeiros heróis mundiais da nossa amada pelota - planos esses suspensos pelo generalíssimo senhor Presidente da Federação Pernambucana de Futebol, o lendário Rubem Moreira, vulgo Rubão, presidente da FPF de 1955 a 1984, ano de sua morte.











































































*Rubem moreira - Rubão, entregou a cada um dos jogadores uma cópia do disco personalizada.


Sem que a comissão técnica nem os jogadores soubessem, foi montada uma imensa programação no Recife para os craques campeões do mundo - e homenagens especiais a Vavá, o Leão da Copa, recifense - onde incluía desfile em carro aberto e almoço regado a discursos no Clube Português. Pelo menos metade do dia se havia gasto pra quem estava apenas de passagem...

























Em plena Copa de 1958, com a expectativa do Brasil ser campeão mundial, o futebol entrou definitivamente na história da Rozenblit. Naquela época, o complexo fonográfico contava com 190 funcionários – o que dava uma agilidade maior no lançamento dos discos. Mas nada como o que aconteceu naquela Copa.

José Rozenblit, presidente da Fábrica de Discos Rozenblit, desportista e presidente à época do Sport Club do Recife, encomendou a Nelson Ferreira uma composição celebrando o feito. O maestro compôs (com Aldemar Paiva), "Brasil, Campeão do Mundo", uma marcha-hino. No lado B do 78 rpm que teve o samba "Escola de Feola", de outro craque da música pernambucana, Luís Queiroga, como faixa principal, gravada pelos Três Bohemios. A música "Brasil, Campeão do Mundo" ficou a cargo da Orquestra e Coro Mocambo (o qual acredito ser Claudionor Germano no canto solo).


*Homenagem da Mocambo aos atletas da Copa de 1958 - selo estilizado nas cores nacionais - Acervo Particular.

Rozenblit determinou que, se o Brasil ganhasse, todos os funcionários deveriam estar na fábrica meia hora após o jogo. Com todo mundo trabalhando, às 16h daquele mesmo 29 de junho de 1958 as duas composições já estavam tocando nas rádios do Recife.

O disco 78 rotações para os Campeões do Mundo foi produzido em tempo recorde. Cada um dos jogadores ganhou uma cópia personalizada do disco.

Nesse dia, chovia às bicas no Recife quando o avião, com 3 horas de atraso aterrissou no Aeroporto dos Guararapes. A multidão lotava o aeroporto e ameaçava invadir a pista. O governador, marechal Cordeiro de Farias e a primeira dama, ambos com as roupas encharcadas, deram as boas vindas aos craques. Bellini, o capitão da seleção foi o primeiro a desembarcar. Vendo a multidão, a chuva, as autoridades, apenas exclamou: "Parece mentira..."


Logo em seguida, teria início o embate verbal que quase terminava em corporal, entre o presidente da FPF, Rubão Moreira e Paulo Machado de Carvalho, presidente da delegação brasileira (e dono da Rádio e TV Record de São Paulo). Sem interesse em permanecer em solo pernambucano, mais do que necessário, quando lhe foi dito que havia uma recepção preparada para homenagear os campeões do mundo, o cartola paulista avisou às autoridades pernambucanas ter recebido ordens expressas para o avião embarcar imediatamente para o Rio. Rubão, em tom desafiante, afirmou que a aeronave não decolaria sem que fosse prestada a homenagem. "Ante a alegação do sr. Paulo Machado de Carvalho de que tinha ordem do presidente da República de não sair do aeroporto, o presidente da Federação Pernambucana declarou que, mesmo assim, os jogadores teriam que ir à cidade, pois gastara vultosa quantia com um almoço para os craques 'Ou os campeões vão à cidade, ou o avião não sai daqui'" - ameaçou categórico, segundo matéria vinculada no Jornal do Brasil, de 3 de agosto de 1958, assinada por Luis Gutenberg, que veio com a delegação.

O presidente da Federação Paulista de Futebol, deputado Mendonça Falcão, entrou na discussão. Falcão tornou-se famoso pelas antológicas gafes que cometia e por esquentar a cabeça facilmente. Conta-se que em 1963, ele chefiou a delegação brasileira que jogou um amistoso contra a Alemanha Ocidental, em Munique. A seleção recebeu um convite para visitar o tristemente campo de concentração nazista de Dachau. Mendonça Falcão foi terminantemente contra e esclareceu: "Em véspera de jogo, time meu não visita concentração de adversário". Naquela manhã, na pista do aeroporto dos Guararapes, observando o bate-boca entre Paulo Machado de Carvalho e o presidente da Federação Pernambucana, interferiu apoquentado. Berrou para Rubem que tal violência constituía-se um caso de polícia. "Acontece que a polícia aqui é nossa" respondeu, peremptório, o intrépido Rubão, acabando com a discussão.

A seleção desfilou em carro aberto pelas principais avenidas do Recife, em caminhão do Corpo de Bombeiros, no qual também foi o pai do centroavante Vavá, o Leão da Copa. Quando finalmente, adentraram o salão do Clube Português, os craques foram recebidos ao som da marcha-hino de Nelson Ferreira e Aldemar Paiva que, com o samba de Luiz Queiroga, foi a trilha do almoço dos campeões.

Fontes: Jornal do Commercio
            http://blogs.diariodepernambuco.com.br/esportes